Também é preciso lembrar que não é o presidente da República
quem decide se o aborto deve ser legalizado ou não no país. Essa discussão cabe
ao Congresso Nacional.
Agora, o mais importante, o crucial: vamos combinar que quem tem que decidir
sobre a legalização – ou não – do aborto são as mulheres. Ponto.
Quem são os homens para dizer o que a mulher deve fazer com
a sua vida e com o seu corpo. Chega desse machismo dominante, prepotente, tentacular
e tóxico.
Aborto envolve a vida delas. É isso. Porque, no final das
contas, muitas das mulheres que tentam fazer um aborto, se não o fizerem,
vão acabar cuidando sozinhas dos filhos que vão nascer. Porque, no final das
contas, nessas situações, não há um pai, um parceiro, um marido. É uma decisão que envolve o passado da mulher e tudo que ela já viveu e suportou; o presente da mulher, a situação que ela esta vivendo naquele momento (muitas vezes sozinha); e o seu futuro e da própria criança. Então quem são
os homens para decidir o que as mulheres devem fazer, como devem encarar a
situação?
E chega dessa ideia, também machista, de que quem faz aborto
são mulheres (principalmente jovens) riquinhas que fazem sexo livremente e,
depois, se engravidam, vão lá e abortam. Jovens irresponsáveis e sem coração. Não
se trata disso. Mulheres que buscam (e fazem!) o aborto são, em sua grande
maioria, mulheres e jovens (e mesmo crianças) violentadas, enganadas, ignorantes,
pobres, que vivem problemas com drogas, marginalizadas e abandonadas pela
sociedade. Há ainda casos que envolvem a saúde e mesmo a sobrevivência de mãe e
filho e outras situações pontuais e específicas.
Mas – e isso é muito importante - não vamos nos esquecer que,
legalizando ou não, os abortos acontecem no Brasil, e aos milhares. Trata-se de
uma questão de saúde pública, que precisa, sim, ser debatida. É preciso, sim, encarar o problema e criar uma alternativa consensual e que possa ser implementada,
respeitada e fiscalizada.
Então, se você é homem, coloque-se no seu lugar, respeite o
pensamento e o posicionamento das mulheres sobre o tema. Cabe só a elas
decidir.
Se você é mulher, se posicione, discuta. Se você é contra
por questão religiosa, biológica, científica, cultural ou qualquer outra
motivação, argumente, defenda seu posicionamento. Se você é favor, da mesma
forma, coloque suas ideias no debate. Se é possível um meio termo, que seja debatido, regulamentado, definido.
É dessa discussão que deve sair a proposta sobre o tema para
o país, a ser encaminhada ao Congresso Nacional, instância competente para
disciplinar a matéria.
Então, por favor, não vamos deixar essa discussão influenciar no debate. Até porque, como dito no início, os candidatos postos já se declararam pessoalmente contrários à prática. Não há porque ficar jogando ao vento que tal candidato é contra ou favor, que tal candidato vai fazer do aborto uma política pública ou que tal candidato vai proibir a prática por conta própria.
O tema é sério. Merece ser tratado com seriedade e com respeito.
No momento e na instância certas.
PS: então a ideia é que o homem não tem voz nessa discussão?
Tem, se ele estiver ao lado da mulher, assumindo seu papel e, principalmente,
se ela quiser ouvi-lo. De novo, o tema é sobre elas. Então, a batuta está com
elas.
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