terça-feira, 25 de outubro de 2022

Ainda propondo reflexões para o encontro com as urnas no próximo domingo (30): o aborto!

Inicialmente, cabe frisar que os dois candidatos que disputam o segundo turno das eleições 2022 já se declararam, pessoalmente, como contrários à prática. Isso é fato.

Também é preciso lembrar que não é o presidente da República quem decide se o aborto deve ser legalizado ou não no país. Essa discussão cabe ao Congresso Nacional.

Agora, o mais importante, o crucial: vamos combinar que quem tem que decidir sobre a legalização – ou não – do aborto são as mulheres. Ponto.

Quem são os homens para dizer o que a mulher deve fazer com a sua vida e com o seu corpo. Chega desse machismo dominante, prepotente, tentacular e tóxico.  

Aborto envolve a vida delas. É isso. Porque, no final das contas, muitas das mulheres que tentam fazer um aborto, se não o fizerem, vão acabar cuidando sozinhas dos filhos que vão nascer. Porque, no final das contas, nessas situações, não há um pai, um parceiro, um marido. É uma decisão que envolve o passado da mulher e tudo que ela já viveu e suportou; o presente da mulher, a situação que ela esta vivendo naquele momento (muitas vezes sozinha); e  o seu futuro e da própria criança. Então quem são os homens para decidir o que as mulheres devem fazer, como devem encarar a situação? 

E chega dessa ideia, também machista, de que quem faz aborto são mulheres (principalmente jovens) riquinhas que fazem sexo livremente e, depois, se engravidam, vão lá e abortam. Jovens irresponsáveis e sem coração. Não se trata disso. Mulheres que buscam (e fazem!) o aborto são, em sua grande maioria, mulheres e jovens (e mesmo crianças) violentadas, enganadas, ignorantes, pobres, que vivem problemas com drogas, marginalizadas e abandonadas pela sociedade. Há ainda casos que envolvem a saúde e mesmo a sobrevivência de mãe e filho e outras situações pontuais e específicas.

Mas – e isso é muito importante - não vamos nos esquecer que, legalizando ou não, os abortos acontecem no Brasil, e aos milhares. Trata-se de uma questão de saúde pública, que precisa, sim, ser debatida. É preciso, sim, encarar o problema e criar uma alternativa consensual e que possa ser implementada, respeitada e fiscalizada.

Então, se você é homem, coloque-se no seu lugar, respeite o pensamento e o posicionamento das mulheres sobre o tema. Cabe só a elas decidir.

Se você é mulher, se posicione, discuta. Se você é contra por questão religiosa, biológica, científica, cultural ou qualquer outra motivação, argumente, defenda seu posicionamento. Se você é favor, da mesma forma, coloque suas ideias no debate. Se é possível um meio termo, que seja debatido, regulamentado, definido.

É dessa discussão que deve sair a proposta sobre o tema para o país, a ser encaminhada ao Congresso Nacional, instância competente para disciplinar a matéria.

Então, por favor, não vamos deixar essa discussão influenciar no debate. Até porque, como dito no início, os candidatos postos já se declararam pessoalmente contrários à prática. Não há porque ficar jogando ao vento que tal candidato é contra ou favor, que tal candidato vai fazer do aborto uma política pública ou que tal candidato vai proibir a prática por conta própria.

O tema é sério. Merece ser tratado com seriedade e com respeito. No momento e na instância certas.

PS: então a ideia é que o homem não tem voz nessa discussão? Tem, se ele estiver ao lado da mulher, assumindo seu papel e, principalmente, se ela quiser ouvi-lo. De novo, o tema é sobre elas. Então, a batuta está com elas. 

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Para refletir antes de ficar frente à frente com a urna eletrônica, neste próximo domingo (30), 2º turno das eleições no Brasil

Se você concorda que a solução para o problema das drogas deve ser com a polícia subindo morros e favelas e atirando em todos que passam pela frente, matando pessoas indiscriminadamente sem saber quem são, ao invés de reconhecer que se trata de um problema de saúde pública, e que se algum parente seu se envolver com qualquer tipo de droga (um cigarrinho de maconha que seja) deve ser tratado da mesma forma, como bandido, e não tratado como uma pessoa que talvez tenha uma doença e que talvez precise de ajuda. Se você concorda que o consumo de droga, mesmo de um cigarro de maconha, deve ser criminalizado e combatido “à bala”;

Se você considera que a “guerra às drogas”, em curso em vários países do mundo há décadas – sem qualquer resultado positivo – é a solução para o problema. Se você acha que entende a dor que deve sentir uma família que vê um filho se envolver com drogas – principalmente em um país que vai tratar esse filho como um criminoso e um marginal, e não como um ser humano que talvez apenas necessite de ajuda; 

Se você concorda que a família que deve merecer proteção do Estado é apenas aquela tradicional, dos séculos passados, constituída unicamente por um pai, uma mãe e filhos, todos brancos, heteros e cristãos – e não a família típica do século 21, com mães ou pais solteiras (viúvos, separados, independentes ou outros) ou com casais do mesmo sexo com filhos, ou casais sem filhos, ou pessoas casadas que moram em casas separadas, ou casais separados que ainda compartilham o mesmo lar, ou casais de etnias e raças e religiosidades diversas, ou qualquer outra dentre tantas possibilidades;

Se você acha que liberdade significa ter posse de uma arma para poder sair livremente pela rua sem ser molestado por “bandidos” ou “vagabundos”, e não que liberdade signifique viver em uma sociedade com menos desigualdades sociais, para que não haja “bandidos” e “vagabundos”, mas sim cidadãos trabalhadores compartilhando a mesma sociedade. Se você acha que a polícia - e mesmo você - devem decidir quem é bandido e quem é suspeito e está ameaçando sua liberdade, e que em razão disto podem atirar e matar esses “bandidos” que interferem na sua liberdade e na sua paz. Se você acha que armado você é capaz de resolver o problema da insegurança pública, substituindo o Poder Judiciário e ainda solucionar o grave problema do sistema prisional;

Se você concorda que a solução para o problema das desigualdades sociais é apostar no capitalismo para aumentar o fosso que divide a sociedade entre os bem-sucedidos e os pobres, e ter que se armar para se defender dos necessitados, criando uma espécie de guerrilha urbana, ao invés de apoiar um capitalismo social, que busca dividir a renda, para que não exista essa diferença gritante entre ricos e pobres e você acabe concluindo que não precisa se armar contra ninguém;

Se você concorda que a mulher deve ser recatada e do lar, e servir como apoio para que os homens continuem ditando os rumos da sociedade, se você concorda que o fato de mulheres se vestirem como quiserem e se manifestarem como quiserem, são sinais de que ela está apenas querendo se insinuar para os homens. Se você acha normal que mulheres, que historicamente desempenham muito mais papeis na sociedade do que os homens – e sempre foram canceladas da história para que fosse mantida, à força, a hegemonia masculina - recebam salários menores por fazerem exatamente as mesmas atividades e responsabilidades que os homens. Se você continua achando normal vermos tão poucas mulheres em posição de destaque nas empresas e nas carreiras públicas, bem como no Legislativo e no Judiciário;

Se você concorda que pessoas com afetividades diversas da sua, pessoas que amam pessoas do mesmo sexo, pessoas que não se identificam com o gênero de nascimento, pessoas que não se identificam com gêneros, pessoas que se vestem e se portam como gênero diverso do seu, pessoas que vivem sua sexualidade de uma forma diferente do que você acredita ser a única sexualidade possível – a sexualidade hetero e dominada sempre pelo homem, senhor da razão – não merecem respeito social e proteção estatal. Se você se sente incomodado em ver pessoas com identificação de gênero e sexualidades diferentes da sua vivendo livres e felizes suas vidas, como elas são;

Se você entende que falar sobre diversidade e respeito nas escolas vai incitar crianças a se tornarem o que não são – ao invés de tentar compreender que discutir o tema apenas compartilha com as crianças que a base de uma sociedade se ampara exatamente no respeito à diversidade, e que o ser humano é complexo e deve ser entendido e respeitado em sua complexidade, na sua integridade e na sua plenitude – e não rotulado como pertencente à caixinha azul ou à caixinha rosa – e que qualquer coisa fora disso vai pra caixinha do lixo, como marginal;   

Se você concorda com a ideia de que não existe racismo no Brasil, que homens e mulheres brancos e homens e mulheres negros têm as mesmas oportunidades no mercado de trabalho, se você acha que a sociedade não tem incrustada em sua formação um racismo estrutural, que nos faz achar normal pessoas negras trabalharem em funções menos importante e nos faz estranhar ver ministros, doutores, engenheiros negros. Se você acha que é normal ter medo de cruzar uma pessoa negra na rua, e não ter o mesmo medo se a pessoa for branca. Se você concorda que negros, mesmo sendo a maioria da sociedade brasileira, não devem ter lugar nas escolas, nas universidades. Se você pensa que as políticas inclusivas, como as cotas, servem apenas para ajudar a colocar pessoas negras despreparadas em profissões que não chegariam de outra forma, e não entende que as políticas de cotas servem muito mais para ajudar a sociedade a vencer esse problema, a permitir diversidade de pensamentos, de sentimentos, de pertencimento e de visões nas escolas, universidades, instituições;

Se você acredita que a escravização de negros africanos (e também de indígenas) foi apenas um período da história do Brasil, que ficou lá para trás, se acha que os negros não carregam esse peso até os dias de hoje (e se você realmente também não carrega esse peso), se acha que a escravização acabou com a assinatura da lei áurea e a partir daí nos tornamos um país sem racismo, e que somos todos irmãos com exatamente as mesmas chances e oportunidades;

Se você concorda que os povos originários não têm direito a terra e a espaços para manterem vivas suas culturas e tradições, mas que o capitalismo deve investir sobre suas áreas para plantarmos cada vez mais, para explorarmos os minérios e outras riquezas naturais, e se você acha que essas áreas são disputadas por grupos estrangeiros, e que países desenvolvidos não estão preocupados em preservar o meio ambiente, querem apenas tomar o Brasil e levar embora todas as suas riquezas, e colaborar com a destruição do meio ambiente do Brasil (que eles sabem ser um dos últimos habitats que ajudam a manter a vida na terra como a conhecemos) e, com isso, acabar de vez com o planeta – que coincidentemente também é o planeta deles;

Se você concorda que professar o cristianismo ou outra religião ou forma de espiritualidade é não respeitar o próximo como ele é, é não respeitar o meio ambiente, é considerar que apenas sua forma de família, de afetividade, é válida e sacra, e que sua religião é a única representante do divino na terra;

Se você concorda que investimento em educação e ciência não são importantes para resolver vários (ou quase todos) esses problemas vividos pela sociedade, mas que basta colocar militares para dirigir escolas públicas e ensinar ordem e respeito às crianças. 

Se você concorda que para combater a fome basta liberar o agronegócio para avançar com suas plantações sobre áreas protegidas, florestas, matas e biomas, ao invés de apostar que esse mesmo agronegócio pode e deve investir em tecnologia (que, aliás, temos, e muita) e produzir tanto ou tão mais sem precisar acabar com os recursos naturais. Se você concorda que, porque países europeus ou da América do Norte erraram ao devastar seu meio ambiente, há décadas, temos agora o direito de acabar com nossas matas e florestas, e que ninguém tem que se meter em nossa “soberania”. Se você entende que os biomas e florestas brasileiras são assunto só do Brasil, e que o país pode fazer o que bem entender com elas, incluindo destruí-las; 

Se você acha que a corrupção aconteceu apenas durante o governo de um determinado partido (o único que nos anos recentes não tolheu de forma alguma a atuação do Ministério Público e das polícias federal e civis), e não que o sistema político brasileiro é corrompível pela forma como é desenhada nossa democracia representativa (formada basicamente por bancadas de interesse setoriais) e a proximidade entre empresas, empresários e políticos, e que a corrupção não esteve presente em todos os governos, incluindo todos os últimos governos;

E se você acha que “investir” em outros países, principalmente mais necessitados – na América Latina ou na África – em lugares nos quais as pessoas necessitam também de um mínimo de estrutura para viver - repito, investir, colocar dinheiro e depois receber de volta -, é cometer um crime, e se o fato de em determinados casos não ter recebido o retorno do investimento, por problemas dos países destinatários – é um crime do Brasil (lembrando inclusive que o Brasil já recebeu investimentos de outros países e deixou de pagar várias vezes em sua recente história);

E, por fim, se você concorda que política se faz comprando votos e apoios de parlamentares, permitindo a liberação de emendas apenas para os que estiverem ao lado do governo aprovando seus projetos para emplacar ideias que, de outra forma, não avançariam. E se você concorda que política se faz acuando a ameaçando outros poderes instituídos da República, xingando e desmerecendo seus integrantes em público, insuflando o povo contra esta ou aquela autoridade, tensionando a harmonia necessária entre os poderes para que o país siga usufruindo de um estado democrático de direito;

Se você concorda com tudo isso, então realmente você não deve votar no candidato da atual oposição.

Vote tranquilo no candidato da situação. Mas assuma que você não está votando nesse candidato porque o candidato da oposição é ladrão e você não quer ladrão no governo. Assuma que você vota assim porque é, também, conservador, concorda e se identifica com essa pauta conservadora, que não aceita incluir a diversidade na sociedade, que não quer viver lado a lado, compartilhando espaços e direitos iguais com pessoas negras, indígenas, mulheres, pessoas LGBT, pessoas menos favorecidas, pessoas marginalizadas, pessoas que enfrentam problemas de saúde causados pelas drogas, enfim, com qualquer pessoa que seja um pouco diferente de você. Assuma que para você todos são iguais, desde que todos sejam iguais a você. 

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Ministério das Cidades lança Cartilha do Ciclista

Na última terça-feira (22), quando se comemorou o Dia Mundial sem Carro, o Ministério das Cidades lançou a “Cartilha do Ciclista” (link abaixo). Bem ilustrada e com textos objetivos e curtos, o documento tem como objetivo principal conscientizar o ciclista de como se comportar quando inserido no trânsito ou pedalando por ciclovias, ciclofaixas ou ciclorrotas.

Dicas importantes estão em todas as páginas. O texto lembra que a “a bicicleta também é um veículo e, portanto, deve respeitar as regras de circulação como qualquer outro”. Pede ao ciclista que “respeite sempre os semáforos, as sinalizações de trânsito e as faixas de pedestre”.

A Cartilha mostra como devem ser feitas conversões em cruzamentos, e lembra que os ciclistas devem sempre andar no mesmo sentido da pista, nunca na contramão. Apresenta, ainda, placas de sinalização no trânsito voltadas especificamente para os ciclistas, coisa que poucos conhecem, e fala em itens de segurança e cuidados com a magrela.

Agora é torcer para que a cartilha chegue a se público-alvo – que não são os cicloativistas ou os cicloatletas, e sim os cidadãos menos informados que usam suas bicicletas sem qualquer preparação para enfrentar o trânsito - muitas vezes por absoluta falta de opção de transporte.

É uma iniciativa importante porque busca educar e conscientizar o ciclista, algo que sempre defendi. Só quando começarmos – Estado e sociedade organizada -  a levar a sério o tema da formação dos ciclistas, por meio de sua educação e seu treinamento para poderem ganhar as ruas com segurança, poderemos pensar em ver a bicicleta como meio de transporte viável para nossas cidades, e não como formas de esporte ou  lazer.

Conheça e divulgue a cartilha:  http://www.cidades.gov.br/images/stories/ArquivosCidades/ArquivosPDF/Publicacoes/cartilhaciclista.pdf

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Em Nova York, ciclista que falar ao celular enquanto pedala vai levar multa


O telejornal da Globo Bom Dia Brasil desta sexta-feira (14) revelou que em Nova York, nos Estados Unidos, está em estudo um projeto de lei que pretende multar ciclistas que falam ao celular enquanto pedalam. Jorge Pontual informou que o projeto prevê que na primeira infração, o ciclista será obrigado a fazer um curso de segurança, para aprender a obedecer as regras de trânsito. A partir da segunda infração, começam as multas, que irão de US$ 50 até US$ 200.

Uma holandesa que visitava a cidade foi entrevista pelo repórter. Ela disse que na Holanda essa lei já está em vigor há dois anos.

A matéria explica que o objetivo do prefeito de Nova York é zerar as mortes por atropelamento na cidade, e que em 2014 dois pedestres morreram atropelados por ciclistas.
Pode parecer pouco, mas como o número de ciclistas é infinitamente inferior ao número de carros que circulam em Nova York, não é um dado que se deva desprezar. E o bom administrador, gestor de visão, tenta resolver um problema quando ele está surgindo, e não depois que se torna uma catástrofe. Porque parece que o uso da bicicleta como meio de transporte é uma tendência mundial crescente.

Nova York tem uma malha cicloviária respeitável. Mas lá - como na Holanda, pelo pouco que diz a cidadã entrevistada na matéria – os gestores do trânsito também entendem que não basta criar o espaço para o trânsito de bicicletas. É preciso conscientizar o ciclista. É preciso educar, é precisão dar conhecimento e informação. Por isso a inclusão do curso de segurança previsto no projeto, para os ciclistas que forem pegos cometendo a infração prevista.

Se o Brasil pretende acompanhar a tendência do ciclismo, deve ficar atento a essas experiências em curso nas principais cidades mundiais em que a bicicleta já é uma realidade como meio de transporte viável.

Confira, aqui, a matéria exibida no telejornal.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Coluna da amiga - dia mundial da gentileza

Oi pessoas!
Sou a Cris, amiga do Mauro. Acompanho o blog dele e suas postagens sobre bicicletas e trânsito e alternativas e rotas e sonhos e ... Adoro. Mas o menino está assoberbado de trabalho, tanto que hoje sugeri abrir uma coluna minha (sim, sou pretensiosa e muito bedelha) no blog dele.
Enquanto o Mauro é um cara sobre duas rodas em pleno DF, sou mãetorista sobre quatro rodas, com duas cadeirinhas - de criança e de bebê, na cidade de Goiânia. A cada trajeto de carro me surpreendo em como o trânsito anda pauleira e não tão gentil assim.
E hoje por ser o dia mundial da gentileza vou aproveitar para dizer o que penso sobre o conduzir de um carro, uma bike ou um camelo (marido é ciclista também), uma moto, um ônibus, um táxi, uma camionete, uma SUV...
É preciso muita delicadeza para conduzir qualquer meio de transporte! Qualquer. Todos eles são armas letais, pouca gente percebe tamanha agressividade. Muitos curtem modelos, cores, potência, velocidade, quantidade de passageiros (marido quer um carro de 7 lugares e não me pergunte o motivo), status, segurança e mais uma variedade enorme de componentes indescritíveis. Poucos lembram que nosso corpo é frágil e que um simples atropelamento provocado por uma bicicleta em um pedestre pode gerar sérias sequelas, isso para não dizer que albarroamentos entre veículos maiores e menores levam vidas, arrasam famílias...
Por isso digo que delicadeza é básico.
Delicadeza?!? Sim, delicadeza. - Não seria gentileza?
Não... ser delicado reflete no estado atento de conduzir um veículo, usar a seta, ligar o pisca alerta quando necessário, manter distância do veículo da frente (meço no olhômetro, se vejo o pneu do carro da frente), andar dentro dos limites, evitar o uso de celular, dirigir para si e para os demais, é a aplicação do Código Nacional de Trânsito.
Agora ser gentil é outro papo! Gentileza é fundamental!
A gentileza no trânsito começa no momento em que você pode até ter razão em seguir seu caminho, mas abre mão para aquela outra pessoa entrar na fila de carro.
Ser gentil é estacionar de modo que outra pessoa também consiga aproveitar o espaço tão limitado das nossas grandes cidades.
Ser gentil é lembrar que toda mãe ou pai quer pegar seus filhos na porta da escola, mas prefere estacionar um pouco mais longe para evitar engarrafamentos e andar um pouquinho.
Ser gentil é não avançar o sinal vermelho, colocando em risco a sua vida e a vida dos demais.
Ser gentil é estacionar em sua vaga normal e não na preferencial.
Ser gentil é não buzinar quando uma mãetorista liga o pisca alerta por que o bebezinho dela engasgou e ela o está socorrendo.
Ser mais que gentil é abrir passagem para ambulância subindo na calçada se preciso for (vendo se tem pedestres, claro).
Ser gentil é deixar o seu vizinho entrar antes de você sair na garagem.
Ser gentil é mudar sua atitude negativa com o trânsito e passar a ser positivo operante.
Poderia ficar aqui digitando por horas a fio o que é ser gentil no trânsito, mas essa última linha aí de cima já basta. Quando a gente muda nossa atitude e passa a ser gentil no trânsito, até o motorista de ônibus deixa você passar na frente quando é preciso.
Seja gentil, que a paz no trânsito virá como consequência!

*obrigado, amiga Cris, pela colaboração.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Bicicletas públicas: usuários precisam atentar para segurança no trânsito


As bicicletas públicas se tornaram realidade em Brasília. O projeto, inaugurado em maio deste ano, parece ter agradado parcela da população que viu nas laranjinhas uma ótima forma de transporte (intermodal), de lazer ou mesmo de atividade física. Mas nem tudo são flores, como diria meu velho pai.

Exatamente porque gostei da ideia, tenho prestado atenção nas pessoas que usam as bicicletas públicas. E ao olhar mais atentamente, passei a notar que a boa nova traz problemas que precisam ser enfrentados e equacionados: em determinados horários, a cidade - principalmente a parte central do Plano Piloto - é invadida por ciclistas temporãos que não atentam para os detalhes de segurança necessários para quem pedala no trânsito. São entusiastas, pessoas que abraçaram a ideia de dar umas pedaladas saudáveis pela cidade, mas que não têm conhecimentos sobre os cuidados necessários para que sua opção não se torne um risco, para si e para os outros.

Tenho visto ciclistas laranjas na contramão, ciclistas atravessando faixas de pedestre sozinhos montados nas bikes, ciclistas descendo calçadas em frente a cruzamentos sem atentar para o trânsito, ciclistas no meio da rua falando ao celular enquanto pedalam entre os carros, e outras situações preocupantes. E muitos sem usar capacete ou qualquer outro tipo de proteção.

Aqui mesmo, em frente ao prédio do TRT-10 (virado para a Rodoviária), olhando pela janela, vejo ciclistas laranjas atravessando a pista em frente a uma curva cuja visibilidade é bem baixa, por conta de carros estacionados em fila dupla (alô, Detran!). Esta curva já é perigosa para carros e pedestres, por falta de fiscalização e organização, que dirá para ciclistas desatentos. Essa semana um ciclista atravessou a pista, nessa curva, falando ao celular, e quase foi atropelado por uma van que fazia a curva

Ontem vi um ciclista que atravessou a L2 Sul, num momento de trânsito intenso, na diagonal, no sentido contrário da pista, e seguiu pela contramão na faixa da esquerda.

Creio que seria o caso de o GDF e as empresas envolvidas no projeto (Itaú Unibanco e Samba/Serttel) pensarem em ações de conscientização para os usuários das bicicletas públicas. Campanhas de TV, rádio, e mesmo o contato direto nos pontos de estacionamento das bikes.

Ainda não li ou ouvi nenhuma notícia de acidente envolvendo os ciclistas laranjas, mas pelo que tenho visto nas ruas, se não houver uma conscientização desse público acerca de como se deve conduzir uma bicicleta no trânsito, temo que seja só uma questão de tempo para começarem a pipocar notícias desagradáveis.
.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Trocando de lugar: motoristas de ônibus vivem na pele como é a vida do ciclista urbano


Uma ideia simples, mas com certeza de grande impacto. Em Salvador, um workshop realizado no último dia 8 inverteu papeis para mostrar como é arriscada a vida do ciclista urbano. Motoristas de ônibus trocaram de lugar com os ciclistas, para que pudessem sentir na pele a sensação de pedalar junto aos ônibus que circulam pela cidade. O evento, uma promoção do "Movimento Salvador Vai de Bike", foi realizado na garagem da empresa do grupo Ondina, e contou com apoio do Sindicato das Empresas de Transporte Público de Salvador (Setps) e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat).

A iniciativa soteropolitana devia ser replicada Brasil adentro. Os cursos de formação de motoristas – de automóveis, ônibus, vans e caminhões – e de motociclistas deviam incluir regularmente em seus currículos momentos desse tipo. Todos os futuros condutores (e mesmo os atuais, em cursos de reciclagem) deviam passar pela experiência de andar de bike pela rua (em um ambiente controlado, claro), para entender o quanto é perigoso um carro passar em velocidade a menos de um metro do ciclista. O susto que isso causa, o nível de tensão que acarreta, e o risco real de acidente desse tipo de conduta.

Muitos de nós, ciclistas, somos também motoristas. Sabemos como é estar do outro lado da relação. Mas muitos motoristas nunca viveram a experiência de enfrentar o trânsito diariamente em cima de uma bicicleta. Sem sentir na pele, apenas lendo o que dizem campanhas educativas, parece que a conscientização e a paz no trânsito não se concretizam.

Exemplo


Hoje mesmo, primeiro dia do Horário de Verão, o trânsito parecia mais caótico do que o normal. Talvez o sono da hora perdida, aliado a esse clima de deserto que tomou Brasília e que literalmente derruba as pessoas, tenham deixado os motoristas nervosos na manhã desta segunda-feira. Tomei uma fechada de uma motorista que acelerou para me ultrapassar e fazer conversão à direita bem na minha frente, me obrigando a frear forte. Vários carros passaram a bem menos de um metro de mim na parte final da EPTG, já chegando ao Parque da Cidade.

Dentro do Parque, então, carros em altíssima velocidade – aproveitando que não havia congestionamento, e provavelmente querendo compensar o atraso do trânsito na EPTG –, passaram zunindo à minha esquerda.

Acho que se esses motoristas passassem por um treinamento como o que foi realizado em Salvador, aliado a uma campanha de conscientização permanente, eles perceberiam o risco que nos fazem correr, o clima de tensão que somos obrigados a suportar, e entenderiam que, na verdade, cada ciclista a mais na rua é um carro a menos no trânsito, é mais espaço para ele rodar pela cidade.

Entenderiam que não somos os inimigos, não somos a causa do seu atraso e do seu estresse. Que somos, a bem da verdade, parte da solução.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

E a bicicleta segue em alta no DF


A utilização da bicicleta como meio de transporte parece que segue em alta na capital federal. E aparenta ser uma tendência irreversível. Hoje, plena sexta-feira (17), na EPTG a caminho do trabalho, tive novamente a satisfação de pedalar na agradável companhia de outros cinco ciclistas. Todos com mochilas nas costas e devidamente paramentados, o que indica que não estavam treinando ou passeando, mas se locomovendo para o trabalho.

Assim que entrei na pista marginal à EPTG, na saída do Guará 1, visualizei um ciclista na pista principal, que parecia vir de Águas Claras, Vicente Pires ou mesmo Taguatinga. Logo à frente, mais dois ciclistas, também na pista principal. Quando passamos da entrada do SIA, encontrei mais dois ciclistas, na pista marginal, logo à minha frente. Fomos mais ou menos na mesma balada, até que, quando chegamos em frente à Octogonal, nos juntamos num único pelotão de ciclistas. Foram poucos metros juntos, uma vez que eles seguiram na direção do Setor Policial e eu segui rumo à entrada do Parque da Cidade.

É a segunda vez que vivi a experiência, em poucos dias. Somados aos grupos de ciclistas com suas bikes speed treinando no Parque da Cidade – local por onde passo diariamente a caminho do trabalho – me fazem sentir que a cidade, pouco a pouco, vai sendo agradavelmente “tomada” pelas magrelas de duas rodas.

É animador. É um incentivo a mais, tanto para nós ciclistas quanto para os motoristas, que ao verem cada vez mais bicicletas nas ruas, vão entendendo que fazemos parte do trânsito, vão se acostumando com nossa presença e aprendendo a nos respeitar. Alguns podem até se animar a também começarem a pedalar pela cidade.

E, apesar dos pequenos problemas aqui e ali, o que tenho vivenciado é nesse sentido. Motoristas cada vez mais cordatos e conscientes, respeitando o ciclista. É uma tendência irreversível, mesmo.

Companheira


Apenas um registro: para minha grata surpresa, vi que uma mulher integrava nosso “grupo”. Outro dia escrevi um post falando sobre a ciclista que encontrei no metrô, ocasião em que comentei que foi a primeira vez que conheci uma ciclista que fazia da bicicleta seu meio de locomoção. Recebi diversos comentários de companheiras ciclistas àquele texto, relatando que também fazem uso da bicicleta como meio de transporte. Pois taí, mais uma prova de que as companheiras ciclistas estão na mesma balada.