segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Trocando de lugar: motoristas de ônibus vivem na pele como é a vida do ciclista urbano


Uma ideia simples, mas com certeza de grande impacto. Em Salvador, um workshop realizado no último dia 8 inverteu papeis para mostrar como é arriscada a vida do ciclista urbano. Motoristas de ônibus trocaram de lugar com os ciclistas, para que pudessem sentir na pele a sensação de pedalar junto aos ônibus que circulam pela cidade. O evento, uma promoção do "Movimento Salvador Vai de Bike", foi realizado na garagem da empresa do grupo Ondina, e contou com apoio do Sindicato das Empresas de Transporte Público de Salvador (Setps) e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat).

A iniciativa soteropolitana devia ser replicada Brasil adentro. Os cursos de formação de motoristas – de automóveis, ônibus, vans e caminhões – e de motociclistas deviam incluir regularmente em seus currículos momentos desse tipo. Todos os futuros condutores (e mesmo os atuais, em cursos de reciclagem) deviam passar pela experiência de andar de bike pela rua (em um ambiente controlado, claro), para entender o quanto é perigoso um carro passar em velocidade a menos de um metro do ciclista. O susto que isso causa, o nível de tensão que acarreta, e o risco real de acidente desse tipo de conduta.

Muitos de nós, ciclistas, somos também motoristas. Sabemos como é estar do outro lado da relação. Mas muitos motoristas nunca viveram a experiência de enfrentar o trânsito diariamente em cima de uma bicicleta. Sem sentir na pele, apenas lendo o que dizem campanhas educativas, parece que a conscientização e a paz no trânsito não se concretizam.

Exemplo


Hoje mesmo, primeiro dia do Horário de Verão, o trânsito parecia mais caótico do que o normal. Talvez o sono da hora perdida, aliado a esse clima de deserto que tomou Brasília e que literalmente derruba as pessoas, tenham deixado os motoristas nervosos na manhã desta segunda-feira. Tomei uma fechada de uma motorista que acelerou para me ultrapassar e fazer conversão à direita bem na minha frente, me obrigando a frear forte. Vários carros passaram a bem menos de um metro de mim na parte final da EPTG, já chegando ao Parque da Cidade.

Dentro do Parque, então, carros em altíssima velocidade – aproveitando que não havia congestionamento, e provavelmente querendo compensar o atraso do trânsito na EPTG –, passaram zunindo à minha esquerda.

Acho que se esses motoristas passassem por um treinamento como o que foi realizado em Salvador, aliado a uma campanha de conscientização permanente, eles perceberiam o risco que nos fazem correr, o clima de tensão que somos obrigados a suportar, e entenderiam que, na verdade, cada ciclista a mais na rua é um carro a menos no trânsito, é mais espaço para ele rodar pela cidade.

Entenderiam que não somos os inimigos, não somos a causa do seu atraso e do seu estresse. Que somos, a bem da verdade, parte da solução.

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