quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Trânsito nada civilizado em Brasília – relatos de uma pedalada

Sem nenhum embasamento estatístico, com base em mera observação pontual e despretensiosa, posso afirmar que ainda estamos bem longe de um trânsito civilizado em Brasília. Ao voltar para casa ontem (28/01), após escrever post sobre trânsito civilizado, presenciei algumas situações bem preocupantes – que relato a seguir – e que fundamentam o que digo.

A ideia do post do dia 28 (Pequenos cuidados para um trânsito mais civilizado), na verdade, surgiu no caminho para o trabalho nesse mesmo dia, depois que um motorista que descia o Eixo Monumental em direção à Esplanada decidiu fazer a curva em direção ao Eixo Rodoviário sem sinalizar sua intenção. E o mais grave: ele trafegava na terceira faixa à direita, passou rapidamente para a segunda, para a primeira e fez a conversão. Isso aconteceu no momento em que eu tentava seguir adiante no Eixo Monumental, e me obrigou a desviar abruptamente. Do susto, veio a ideia de escrever sobre o tema.


Toque

Passo, então, a narrar os fatos do retorno para casa. Já de saída, ainda no primeiro quilômetro do percurso, na via S1, fui tocado no guidão pelo retrovisor de um Siena preto, dirigido por uma senhora que parecia bastante insegura na direção. Estávamos bem devagar, mas com o “choque” tive que jogar a bicicleta para cima da calçada. Como prejuízo, tive apenas o retrovisor danificado. Não sei nem se a digna senhora percebeu o que houve, visto que ela simplesmente seguiu seu caminho. O susto foi bem grande.

Poucos metros adiante, uma jovem fez a curva em direção ao acesso à L2 Norte sem sinalizar com a seta, no momento em que eu tentava seguir reto na S1. Além de não sinalizar, ela simplesmente ignorou minha presença na pista, “jogando” o carro para cima de mim. Mais uma vez fui obrigado a desviar para a calçada, abruptamente.

Faixa

Após entrar no Parque da Cidade, que faz parte do meu trajeto, desci da bicicleta para atravessar a faixa de pedestres que fica bem em frente ao Parque Ana Lídia e sinalizei, com a mão, a intenção de fazer a travessia. De acordo com o artigo 68 do Código de Trânsito Brasileiro, o ciclista desmontado, empurrando a bicicleta, equipara-se ao pedestre em direitos e deveres. Mas dois motoristas não pararam na faixa, e um ainda passou dando um “tchauzinho” sorridente, atitude de uma irresponsabilidade impar.

Maconha

Durante todo o trajeto, de pouco mais de 15 quilômetros, cruzei com quatro carros que exalavam forte e inconfundível cheiro de maconha. Pessoalmente, não tenho nada contra os usuários da cannabis, mas penso que, da mesma forma que o álcool, marijuana e direção não deveriam andar juntas.

Um parêntesis: já há tempo comento com os conhecidos que tem sido cada vez mais comum, em Brasília, ver pessoas fumando maconha enquanto dirigem. Não sei se em seus veículos essas pessoas sentem-se mais seguras de não serem incomodadas por autoridades policiais, ou se a descriminalização está levando os usuários a acenderem seus chamados “bagulhos” como se fosse um cigarro normal.

Mais desrespeito

Na Octogonal, transitando na pista que mais adiante vai passar em frente ao Terraço Shopping, quando me aproximava de uma das pistas de acesso a essa via, oriunda do Sudoeste, um motorista que intentava entrar na via, mesmo me vendo aproximar em velocidade, ao invés de esperar que eu passasse, simplesmente acelerou e me obrigou a uma freada brusca.

Esta pista pintada é usada por motoristas em dias de trânsito
Já na EPTG, talvez devido ao trânsito intenso, presenciei três carros e um ônibus transitando na parte pintada da pista, onde não é permitido circular veículos automotores, e onde nós ciclistas aproveitamos para trafegar sem “atrapalhar” o trânsito.

Falta de Consciência

Todos esses acontecimentos, presenciados em uma única viagem de pouco mais de 15 quilômetros realizada em 40 minutos – e que vejo acontecer todos os dias, em maior ou menor grau –, mesmo sem qualquer aprofundamento estatístico, mostram claramente que muitos motoristas em Brasília ainda não têm consciência ou interesse em contribuir para um trânsito civilizado. E essa parcela dos condutores – mesmo que não seja a maioria – consegue tornar violento e tenso o trânsito na capital federal.

Outro lado

Mesmo diante desses fatos nada alentadores, é possível constatar, também sem embasamento estatístico algum, por mero feeling, que vem aumentando o número de motoristas conscientes, que estão atentos às regras do trânsito e respeitam sinais, faixas de pedestres e ciclistas.

Tenho observado diariamente que são muitos são os motoristas que dão preferência a nós, ciclistas. Que buzinam para nos incentivar, para nos comunicar sua aproximação, ou para tentar nos avisar de algum perigo. Que nos dão passagem ou aguardam pacientemente que sigamos nosso trajeto, sem nos pressionar ou se aproximar demasiadamente.

Torçamos para que estes últimos sirvam de exemplo e ajudem a construir um trânsito civilizado em Brasília. Um trânsito que permita às pessoas escolherem os meios pelos quais preferem se locomover pela cidade, e que respeite essas escolhas. Um trânsito onde aja igual e democrático espaço para todos: motoristas, ciclistas e pedestres.

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