segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Transporte coletivo e interação social

O uso de meios coletivos de transporte tem lá seus problemas, traz uma série de incômodos ao nosso dia a dia, mas tem algumas vantagens “colaterais” bastante interessantes, que nem sempre são levadas em conta. Falo da possibilidade de conhecer pessoas, interagir com nossos iguais, observar comportamentos e tendências, ou aproveitar o tempo da viagem para estudar ou até para descansar.


Dia desses, voltando para casa de metrô após o dia de trabalho (chovia na capital, e a bicicleta ficou em casa), sentei-me perto de dois jovens – estudantes e estagiários – que se encontraram no coletivo. Eles se cumprimentaram e começaram a conversar sobre literatura. Em pouco tempo o assunto evoluiu para tablets e leitores de ebooks. A conversa começou a correr solta e, em pouco, uma senhora que estava no assento logo em frente – professora aposentada, segundo se declarou – não aguentou e entrou no bate-papo. Eu, que estava com meu tablet na mão lendo um “livro”, não tive como ficar de fora.

Assim, em uma viagem de cerca de 20 minutos, participei de uma conversa de alto nível sobre tecnologia, sobre livros e sobre o que a tecnologia pode acrescentar ao universo da educação. A conversa foi intelectualmente enriquecedora, e não poderia nunca acontecer se eu estivesse em meu automóvel, dirigindo solitário para casa.

Comportamento

Outro dia, chegando no metrô (outro dia de chuva, sem bike), vi dois homens ajudando um cadeirante a descer as escadas rolantes que dão acesso à estação central, na Rodoviária do Plano Piloto. Um pela frente e outro por trás, levantaram a cadeira e carregaram o senhor escada abaixo. O bonito da história é que os dois homens não conheciam o deficiente. Viram o homem ali, com dificuldades para descer até a estação, e se ofereceram para ajudá-lo. Esse tipo de comportamento é muito mais comum do que podemos imaginar - pessoas se ajudando, se interessando e se preocupando com seu próximo.

Comportamento bem diferente do que vemos no mundo automotivo, em que motoristas quase sempre estressados estão preocupados apenas com suas vidas, demonstrando puro egocentrismo nas pistas – correndo, não dando passagem, xingando, dirigindo violentamente.

Tempo útil

Tanto nos ônibus quanto no metrô, é muito comum ver as pessoas (sentadas ou mesmo em pé) lendo e estudando, principalmente para concursos públicos. Acredite ou não, essas pessoas estão ganhando um tempo precioso, que não teriam se tivessem ou se locomovessem apenas de automóvel.

Num cálculo rasteiro, se um "concurseiro" fizer duas viagens por dia de 30 minutos (ida e volta ao trabalho), terá estudado cinco horas em uma semana, ou 20 horas em um mês, apenas nesses períodos aproveitados dentro dos coletivos. Isso vai fazer diferença um dia e, quando ele finalmente conseguir passar em um concurso, pode até não se atentar para isso, mas um dos motivos do sucesso deve ser creditado ao fato de usar o transporte coletivo público.

Outros tantos aproveitam as viagens em coletivos para descansar, o que também não poderiam fazer se estivessem dirigindo e se estressando em meio ao trânsito intenso. Com certeza, pessoas com longas jornadas de trabalho, com afazeres domésticos a realizar na chegada ao lar, e que precisam desses valiosos minutos para repor um pouco das energias antes de começar o chamado terceiro turno.

Igual

Como esses rápidos exemplos relatados, muitas são as situações interessantes que vivemos quando optamos por usar os transportes coletivos. Quando deixamos de lado nossos veículos individuais e passamos a usar ônibus e metrôs, nos conectamos com os demais cidadãos da nossa cidade. Nos permitimos ser mais um, ser igual. Passamos a, verdadeiramente, fazer parte da comunidade.

Casamento

Prova de que faz sentido o que diz o post: foi numa parada de ônibus que vi, pela primeira vez, a mulher com quem sou casado. Será que eu a teria conhecido se andasse apenas de carro, e não fosse usuário do sistema de transporte público coletivo?

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