quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Caminhar em Brasília não é fácil

Há coisa de três ou quatro anos, quando costumava me locomover a pé no trajeto casa/trabalho - trabalho/casa (à época, morava próximo ao centro da cidade), concedi entrevista para uma revista da área de urbanismo para falar da minha opção pela mobilidade urbana. Na ocasião, a jornalista perguntou o que eu achava das calçadas da cidade. Puxei pela memória e fui lembrando os trajetos que fazia, para responder sem medo de errar: Brasília não é pensada para as pessoas caminharem por aí.

O que é muito estranho, quase um paradoxo, uma vez que vivemos em uma cidade plana, ampla, clara, limpa, com arquitetura e urbanismo diferenciados do restante das cidades brasileiras.


Mas a verdade é que a quantidade de calçadas quebradas e mal conservadas em Brasília é assustadora. Muitas não resistem ao crescimento das raízes das árvores. Outras vão sendo tomadas por mato, ou sofrem rachaduras devido a obras realizadas nas proximidades. Depois que se quebram, permanecem assim, sem manutenção.

São poucos os lugares na cidade, principalmente na área central, em que o cidadão pode caminhar por calçadas bem construídas e conservadas. Apenas aqui e ali temos situação melhor, principalmente onde o GDF tem maquiado algumas calçadas como ciclovias, que continuam a ser usadas por pedestres. No mais, a sensação é de estar participando de uma prova de rally, de cross country. Onde não estão quebradas ou mesmo ausentes, as calçadas apresentam descontinuidades, com barreiras entre um ponto e outro.

Piscina

A primeira foto deste post, por exemplo, mostra uma “piscina” formada logo ao lado da Rodoviária do Plano Piloto, por conta de uma pista que foi bloqueada e deixada assim mesmo. Quem desembarca de ônibus na estação e pretende descer a Esplanada, precisa torcer para que não tenha chovido recentemente. Senão, vai precisar dar uma bela volta para contornar a poça de água barrenta.

Outras duas fotos mostram uma calçada quebrada e outra interrompida por um buraco e mato, na beira da EPTG. Em diversos outros pontos, como na Avenida nas Nações (L4 Sul), não existem sequer calçadas, apenas grama margeando a malha viária. Situações que, se não impedem, com certeza dificultam, e muito, a vida dos pedestres.

Usar a bicicleta como meio de transporte, em Brasília, é perigoso. A locomoção por transportes coletivos é difícil: demorada, congestionada e insegura. Mas praticar o pedestrianismo em Brasília também não é nada fácil.

Um dia, a Administração Pública vai ter que começar a pensar em mobilidade urbana, de forma séria e responsável, e deixar de lado, definitivamente, as ações eleitoreiras: ônibus novos sem melhorias no sistema, ciclovias apenas para lazer, maquiadas e desconectadas, recapeamento de vias pela metade, sem cuidado com bueiros e sarjetas, etc.

Ações que não resolvem coisa alguma, mas enchem os olhos do eleitorado nosso de cada quatro anos.

Piscina ao lado da Rodoviária do Plano Piloto
Calçada quebrada na margem da EPTG
A L4 Sul sequer tem calçadas
Ainda na EPTG, a calçada foi interrompida
pelo mato e por um buraco

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