segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Capacete: obrigação x consciência

Ciclistas não são obrigados a usar capacete no trânsito. A obrigatoriedade se resume a motociclistas, que devem usar o equipamento, certificado pelo Inmetro, “devidamente afixado à cabeça pelo conjunto formado pela cinta jugular e engate por debaixo do maxilar inferior”, sob pena de multa. Muito se perguntam se, tendo em vista a violência do nosso trânsito, não seria o caso de tornar o equipamento obrigatório para os bikers, como o capacete para motociclistas e o cinto de segurança para os motoristas de automóveis?


O tema gera muita discussão entre cicloativistas, atletas e ciclistas em geral. Há os que contestam o uso, dizendo que o equipamento não é eficiente para reduzir ferimentos, e os que defendem a obrigatoriedade (prevista em lei, mesmo) do capacete para ciclistas, passando pelos que simplesmente não gostam de usar o equipamento e os que admitem que o capacete pode, eventualmente, trazer segurança.

Na internet é fácil encontra blogs e sites que questionam o uso do capacete e contestam até mesmo as campanhas para incentivar o uso do equipamento. Entre outros argumentos, citam que o uso do capacete não é obrigatório nos EUA e em países da Europa – locais onde a bicicleta é parte importante no trânsito de muitas cidades, e apontam estudos que “comprovariam” a ineficiência do capacete nos casos de acidente em geral.

Já os defensores do uso e da obrigatoriedade do equipamento para ciclistas revelam estudos que, por seu turno, “comprovariam” a eficiência do capacete, baseados principalmente em testes de qualidade e em dados estatísticos.

A discussão, em suma, se resume em saber se o capacete pode ajudar a evitar acidentes fatais ou com sequelas graves. Porque no quesito obrigatoriedade, parecer haver uma concordância nas legislações locais norte americanas, europeias e brasileiras, no sentido da não imposição legal do uso do equipamento.

Assim, resta saber se o uso deve ser estimulado ou não. E aí, a balança tende necessariamente para o lado dos que defendem o uso do capacete.

Programa de doação

Primeiro, vamos à comparação com outros países. Um exemplo: Nova Iorque, a Big Apple, realmente não obriga o ciclista urbano a usar capacete. Mas o Departamento de Trânsito municipal tem um programa de doação de capacetes para todos os ciclistas interessados. O objetivo declarado, claro, é diminuir a possiblidade de ferimentos mais graves nos casos de acidente envolvendo ciclistas. Além de salvar vidas, programas como esse reduzem gastos de recursos públicos (dinheiro, profissionais e tempo) do sistema local de saúde.

Nas principais cidades da Europa também não existe obrigatoriedade. Mas lá, o trânsito é muito mais civilizado. Os motoristas aprenderam a conviver pacificamente e a respeitar os ciclistas urbanos. E existem muitas ciclovias e ciclofaixas de ótima qualidade. A cultura da mobilidade por bicicleta faz parte do cotidiano urbano. Assim, os riscos de acidentes são infinitamente menores do que no Brasil.

Outro parâmetro que mostra a importância do capacete vem dos adeptos de mountain bike, downhill, freeride etc. Esses ciclistas – que convivem diariamente com o perigo de quedas, sendo que muitos já viram algum conhecido se esborrachar no chão –, não saem para praticar seu esporte sem amarrar bem seus capacetes. Eles praticam diariamente a máxima segundo a qual é melhor prevenir do que remediar (até porque, às vezes, nem remédio há para certos acidentes).

Por fim, um sem número de depoimentos de ciclistas e/ou familiares, facilmente encontrados por meio do Google, contando casos pessoais de como se estatelaram no chão, e de como o uso de capacetes salvou suas vidas, fecha o quadro.

Certo que em alguns casos, mesmo usando capacete, acidentes envolvendo bicicletas acabam sendo fatais para os ciclistas. Mas com certeza, além de não causar mal algum, o capacete pode, eventualmente, evitar uma morte ou uma sequela para toda vida.

Estudos negativos

O argumento de que o capacete seria ineficiente no caso de acidentes não deixa, inclusive, de somar pontos a favor de seu uso. Esses estudos mostram falhas em alguns equipamentos e casos de acidentes nos quais o equipamento não funcionou como deveria.

Mesmo esses estudos, com resultados claramente contrários ao uso do capacete, devem trazer dados que mostram que, em alguns casos, o capacete funcionou. Em poucos, mas funcionou. Em resposta aos que defendem essa tese, eu só diria uma coisa: espero que o meu caso, se vier a acontecer, esteja dentro dessa minoria, no qual o capacete funcionou. Usando o capacete, ao menos terei essa chance. Porque, no fundo, sem esse equipamento, a cabeça do ciclista passa a ser seu para-choque.

Uso correto

Sou favorável ao uso do capacete, sim. Mas respeito quem não gosta do equipamento, ou o considera inútil. E nem considero que obrigar seu uso vai resolver alguma coisa. Na verdade, creio que seria mais uma norma a ser abertamente desrespeitada. O uso de capacete é questão de consciência, só isso.

Mas, para quem usa o equipamento ou pretende começar a usar, uma dica importante: o capacete só terá eficiência se corretamente posicionado, bem ajustado à cabeça, e devidamente fixado abaixo do queixo pela cinta, sem folgas. Ninguém precisa colocar capacete para impressionar ou mostrar para os outros. Assim, se for para usar, que o uso seja correto e consciente.

Quanto à falha de equipamentos, basta o ciclista procurar, nas lojas especializadas, capacetes de qualidade, de tamanho adequado e que sejam confortáveis e fáceis de colocar.

No mais, é torcer para não precisar constatar se, no fim das contas, o capacete presta ou não. Porque o capacete é como o plano de saúde ou o seguro de vida. A gente mantém em dia, mas espera não precisar usar tão cedo...

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