sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

GDF entrega novos ônibus à população: projeto às avessas

Uma fila de três quilômetros de ônibus, em pleno Eixão Sul, foi a surpresa da manhã desta sexta-feira (7) em Brasília. Com grande estardalhaço, o governo local fez espetáculo para entregar à população mais 198 novos coletivos, que vão servir Ceilândia, Samambaia e Guará. De acordo com o GDF, com esta nova leva, 70% de toda frota já foi renovada – algo em torno de 1,8 mil veículos.

A troca dos ônibus em circulação na capital, diz o governo em matéria publicada no site do jornal Correio Braziliense, “é o início de uma transformação total do nosso sistema de transporte público" que inclui, por exemplo, obras de infraestrutura para melhorar a mobilidade urbana, como o "Expresso DF”.

Particularmente, acho que o projeto está sendo implantando às avessas!


Certo que o brasiliense merece contar com veículos de qualidade para seu transporte diário. Mas penso não ser correto colocar esses ônibus para rodar de imediato no ainda ineficiente sistema de transporte público coletivo da capital.

Inseri-los em nosso conturbado trânsito, sobrecarregado, ainda com muito asfalto por ser consertado, com muitas obras na malha viária em andamento, com motoristas ainda mal remunerados e insatisfeitos, sem regras precisas e transparentes para que as empresas concessionárias façam manutenção nos carros e com a questão da falta de segurança (que fez motoristas rodoviários paralisarem suas atividades essa semana) -, vai causar o desgaste desse equipamento antes que essa propalada “transformação total” se torne realidade.

Creio que um projeto bem pensado de “transformação” do sistema de transporte público coletivo, como diz o GDF, cuidaria primeiro de atualizar asfalto (todo asfalto, e com qualidade, e não como a obra que foi feita nos últimos meses, em que os “buracos” que viraram os bueiros escancaram o mau serviço prestado), priorizar a valorização dos profissionais da área, investir em meios alternativos de transporte para desafogar o trânsito, em projetos de engenharia de trânsito atualizados e inteligentes, e em segurança viária (aí incluídos não só o combate a acidentes e aplicação da chamada Lei Seca, mas também a prevenção contra assaltos e roubos).

Só depois disso é que viria, penso eu, a troca da frota. Repito: inseridos no trânsito atual, ainda extremamente problemático e caótico, esses novos veículos muito em breve já estarão envelhecidos, com problemas.

Enfim... parte dos ônibus novos está circulando. Parte do asfalto foi reformada. Parte das obras dos projetos de engenharia de trânsito foi realizada. Parte das ciclovias prometidas foi entregue. Tudo pelas metades. Desorganizadamente pelas metades.

Bem a cara do Brasil, em que nada é feito às inteiras. Nenhum problema é enfrentado pra valer. Em que as soluções são sempre parciais, paliativas e temporárias.

Só nos resta torcer, de verdade, para que eu esteja errado. E que esses novos ônibus entregues hoje tenham vida longa. Porque, afinal, o cidadão merece.

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