quarta-feira, 30 de abril de 2014

Seja você a mudança que quer ver no mundo

Quando me deparo com o depoimento de um cidadão de 31 anos que revela não usar automóvel – e que sequer tirou carteira de motorista –, por opção própria, para evitar o dissabor e o estresse de dirigir em áreas urbanas – a esperança em dias melhores no trânsito da capital renasce. Da leitura da matéria pode-se imaginar que o entrevistado tem condição de ter carro, mas depois de testemunhar o estresse causado pelo trânsito em pessoas próximas, ele preferiu se afastar desse caos e investir em qualidade de vida. A matéria foi publicada na edição do Correio Braziliense de ontem (29) e afirma que o trânsito pode ser uma das principais fontes de estresse do brasiliense, de acordo com especialistas.

O entrevistado em questão não ficou esperando que os outros resolvessem o problema. Não esperou uma melhora no trânsito. Não esperou uma mobilização ou revolução social. Não esperou uma ação do governo. Ele simplesmente agiu. Seguiu a máxima do líder indiano e "guerreiro pela paz" Mahatma Ghandi, que dizia seja você a mudança que quer ver no mundo.


Depressão

O músico ouvido pelo jornal tem muito a ganhar em termos de saúde mental (e também física). Isso porque, de acordo com uma psicóloga também ouvida pelo jornal, pessoas que enfrentam horas diárias de congestionamento vão acumulando tensões e “tendem a apresentar episódios de depressão, ansiedade, desânimo e até mesmo fobias”.

O que acontece, na prática, é que os constantes congestionamentos – com seus consequentes atrasos, cansaço, sensação de claustrofobia, imobilidade - acabam por acender certo grau de violência nas pessoas. E pessoas violentas acabam fazendo o trânsito ficar cada vez mais violento, que por sua vez faz as pessoas ficarem mais violentas. É um ciclo vicioso, uma espiral crescente, do mal.

Além do uso da buzina, dos xingamentos, da competição que vira o trânsito diário, da falta de civilidade e de cordialidade, vira e mexe lemos notícias que relatam homicídios em consequência de incidentes banais no trânsito. Pessoas sacam armas ou barras de ferro e tiram a vida de seu próximo por coisas pequenas. E a tendência é que a situação piore cada vez mais. Muito mais.

Solução

Assim, ver que existem pessoas que optam por se manter à margem desse mundo automotivo, que apostam em outras formas de locomoção, não só por princípio ou por consciência cívica, mas como forma de prevenção de saúde física e mental, como forma de melhorar a própria qualidade de vida, é sinal de que existe solução para o problema. De que pensar em mobilidade urbana não é quixotismo, utopia, rebeldia ou loucura.

Pensar em mobilidade urbana é pensar numa sociedade mais pacífica, mais civilizada, mais fraterna. É pensar em pessoas mais realizadas, com qualidade de vida. É pensar em menos problemas de saúde. Em menos mortes de parentes e amigos, jovens, crianças, inocentes.

O depoimento mostra que ainda existe muita gente sensata, consciente, e que mesmo não sendo ativista da mobilidade urbana, prática a mobilidade no seu dia a dia, no seu jeito de ser e agir. E mais: mostra que existe espaço para campanhas de conscientização, para campanhas de educação.

Mostra que é possível viver bem e ser feliz fora das caixas de metal com motor e quatro rodas.

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