sexta-feira, 21 de março de 2014

Diretor do DF Trans espera que cidadão compre carro e não precise de ônibus

Em entrevista ao colega Estevão Damázio, da rádio CBN, sobre o caos que se criou com as obras na Rodoviária do Plano Piloto, a autoridade foi direta em sua resposta, quando perguntada (pelo ouvinte P.) se ia de ônibus para o trabalho: “acho que trabalhei para chegar (aqui) e espero que você (ouvinte) também, daqui a alguns dias, não precise mais andar de ônibus, porque provavelmente ele anda, mas nós entendemos”.

A frase acima foi dita por ninguém mais ninguém menos do que o diretor técnico do DF Trans (Transporte Urbano do Distrito Federal), Lúcio Lima. Ele é, simplesmente, o responsável por cuidar, gerenciar e viabilizar soluções para o trânsito do Distrito Federal, e deveria ser o maior incentivador, o “condutor”, o “maestro” de projetos de mobilidade urbana. E mais: devia ser o exemplo.


É estarrecedor. Se o gestor do trânsito não pratica e sequer acredita no que se propõe a fazer – ou no que deveria ser feito, por ser a tendência mundial –, podemos perder as esperanças de que algo de bom seja feito nessa área pela atual administração distrital.

A entrevista escancara a incompetência desse governo em termos de trânsito, que só faz obras paliativas e desconexas, maquiadas e sempre com fito de priorizar os automóveis e não os meios alternativos. De que adianta o governo federal investir R$ 4 bilhões no DF para mobilidade urbana, se o gestor de todo esse recurso é uma pessoa com essa consciência tacanha e infeliz, que é capaz de falar abertamente que trabalhou muito para poder, finalmente, deixar de andar de ônibus, e espera que os cidadãos consigam comprar seus veículos automotores?

E o mais cômico (ou seria trágico?) foi que na mesma entrevista ele mostrou ter pleno conhecimento de que o mundo inteiro caminha no sentido de priorizar transportes públicos de massa. “Nossas avenidas e nossos espaços públicos não suportam mais a quantidade de veículos individual (sic), e temos que investir no transporte público de massa, para que nossa cidade tenha um mínimo de qualidade de vida”.

Para os outros. Não para ele. Ele vai de carro. Afinal, ele pode. Batalhou por isso.

Como se andar de ônibus fosse para os fracos, os perdedores, os pobres que ainda não conseguiram “vencer” na vida e comprar seu carrinho.

Quando ouviu Lima afirmar que torcia para que o ouvinte conseguisse comprar um carro, Damázio, com sua longa experiência, foi incisivo com o mau administrador: “Você não pode falar isso, não. A gente tem que torcer para que funcione. Se mandar o P. andar de carro, é mais um carro na rua. Você tem que torcer para o P. e todos nós andarmos de ônibus”.

Desculpem, mas o DF não merece isso. O cidadão não merece isso.

Para seu conhecimento, Lúcio, tenho carro próprio – há muitos anos, há quase seus trinta anos de experiência. Mas deixo o veículo em casa e venho para o trabalho diariamente de bicicleta, ou de metrô, de ônibus e até a pé. Pratico mobilidade urbana diuturnamente. E olha que minha função também não permite, como você diz. Mas eu venho. Eu faço. Porque acredito que é possível, que é viável e que é necessário se implantar um projeto sério de mobilidade urbana no DF. E luto por isso.

Assim como eu, muitos colegas fazem o mesmo. E não merecem ter como diretor do DF Trans uma pessoa com essa sua insensibilidade e essa incompetência.

Preconceito

Além da incompetência e da clara demonstração da falta de capacitação de Lúcio Lima para o cargo que ocupa, a entrevista reafirma todo o preconceito contra o transporte coletivo que há no Brasil, e que voltou à tona com uma foto da atriz Lucélia Santos andando de ônibus no Rio de Janeiro. A imagem circulou pela internet dias atrás e gerou toda sorte de comentários tendenciosos, escancarando o preconceito que existe contra quem anda de ônibus. Disseram que, pelo simples fatos de estar andando de ônibus, a atriz estaria decadente. Santa estupidez.

O diretor do DF Trans demonstrou o mesmo preconceito: ele já precisou do transporte público, quando era pobre. Mas se esforçou muito, trabalhou, ficou rico e agora não precisa mais andar de ônibus. E atingiu uma situação funcional (ou seria a necessidade de "manter" o status de bem sucedido) que não permite que ande de ônibus. E torce para que aqueles que não têm carro consigam comprar o seu, para poderem deixar de andar de ônibus.

Lamentável.

(agradeço ao colega ciclista e cicloativista Uirá Lourenço por compartilhar a notícia)

2 comentários:

  1. Pois bem, a imbecilidade deste governo está devidamente comprovada na boca deste Ilmo. Sr.Lúcio Lima, lembro a vc. que acima de tudo ele representa a incompetência de um governo que investiu mais de R$1.500.000,00 em um "campo" de futebol que será o maior "elefante branco" de todos os tempos de Brasília.
    Lamento, lamento por Brasília, pela sua população, mas infelizmente este cavalheiro representa muito bem o governo que está em vias de destruir nossa querida cidade.

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  2. O curioso é que ele disse que o transporte público tem que ser privilegiado em detrimento do transporte individual e depois manda uma dessas...

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