segunda-feira, 10 de março de 2014

Situação em São Paulo acende alerta para a imobilidade urbana

O jornal Folha de São Paulo publicou, na edição desta segunda-feira (10), artigo do secretário estadual de Transportes Metropolitanos de São Paulo sobre a questão da mobilidade na capital do mais rico estado brasileiro. Ele fala de pesquisa realizada pela Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô-SP), que revela alguns dados interessantes, que merecem atenção, não só em SP, mas nas principais cidades brasileiras.

Entre outros dados, a pesquisa mostra que, na região metropolitana de São Paulo, enquanto a população menos favorecida usa cada vez mais o automóvel para se locomover pela cidade, as famílias de renda mais alta estão migrando (ou fugindo) para o transporte coletivo. Descontando o escancarado e óbvio viés eleitoreiro do texto, o que se extrai dessa pesquisa, penso eu, é que a situação em São Paulo está saindo do controle. A cidade está chegando a um estágio de “imobilidade urbana”. As pessoas mais esclarecidas estão descobrindo que, se as coisas não mudarem, um dia São Paulo vai, literalmente, parar!


Números

Veja o que diz o artigo sobre meios de transportes x renda na região metropolitana de São Paulo: “Em 2007, 23,4% da população com renda de até R$ 1.244 realizava suas viagens pelo modo individual, que inclui também as motos. Em 2012, o percentual subiu para 25,2%. Entre as famílias com renda acima de R$ 9.300, tem ocorrido o fenômeno inverso. As viagens individuais caíram de 82,2%, em 2007, para 75,9%, em 2012. E o percentual de pessoas nessa faixa de renda que passou a usar transporte público aumentou de 17,8% para 24,1%. Ou seja, as classes populares têm andado mais de carro e moto, e os mais ricos, de transporte público.”

O que estes números parecem mostrar é que cidadãos que possuem carro e sempre se locomoveram de forma motorizada individual estão chegando à conclusão que o trânsito está se tornando inviável, e estão buscando alternativas para o transporte diário casa-trabalho trabalho-casa. Principalmente porque, nos últimos anos, a camada mais pobre da população passou a contar com crédito e reuniu condições de, finalmente, comprar seu primeiro carro. E, felizes da vida com sua nova e tão sonhada aquisição, estão enchendo mais as ruas de veículos automotores individuais.

Mais números

Tanto que a pesquisa mostra que, em 2012, o número de carros por mil habitantes chegou a 212. O que dá cerca de um veículo para cada 4,71 paulistanos. Em 2007, eram 184 carros por mil habitantes (ou um carro para cada 5,43 habitantes) – um aumento de automóveis per capita de 15%. Enquanto em 2007 eram 3,61 milhões de autos em SP, em 2012 esse número pulou para 4,24 milhões, um pulo de 18% no período (ou 646 mil novos veículos circulando pelas ruas).

Ressalte-se que, no período, a população total na região metropolitana passou de 19,53 para 20,01 milhões de habitantes, coisa de 2% de crescimento (ou 477 mil habitantes a mais).

Exaustão

São Paulo é conhecida como a "locomotiva brasileira", a cidade mais rica e mais populosa do país. Está entre as maiores cidades do mundo. Em termos de mobilidade urbana, porém, a capital bandeirante está claramente chegando em um ponto de exaustão. Exemplo disso são os constantes e tão midiaticamente propalados mega congestionamentos na cidade (segundo a Folha, em novembro de 2013 foram inacreditáveis 309 quilômetros de paralisação na capital). E olha que em São Paulo funciona o sistema de rodizio de carros (por placas) nos dias de semana. Então, o que a pesquisa mostra é que uma pequena – mas importante – parcela da população paulistana está acordando para o problema e buscando alternativas por conta própria.

Diz o artigo do secretário: “O comportamento das classes mais altas segue uma tendência mundial de cada vez mais se libertar do transporte individual para realizar as viagens de ida e de volta ao trabalho. Nos grandes centros urbanos, os carros são incompatíveis com a qualidade de vida. Além do congestionamento, as consequências diretas do uso do automóvel e de motos são a poluição ambiental e sonora, os acidentes e mortes no trânsito e a perda de tempo.

Diria eu, a meu modo, que o comportamento das classes mais altas segue uma tendência mundial de – independente de governos – buscar alternativas próprias para fugir dos problemas do trânsito causados por gestões governamentais que continuam não dando a devida importância e dimensão para o problema da mobilidade urbana.

Então, que as administrações do Distrito Federal e de outras grandes cidades brasileiras se antecipem e não deixem a situação ficar como São Paulo. Que tirem lições do que acontece na capital paulista. E que ajam em prol de um trânsito mais humano, mais civilizado, mais inteligente e mais democrático.

E, da mesma forma, que os cidadãos de outras cidades brasileiras se adiantem e passem a buscar alternativas de locomoção. Porque o que um grande número de cidadãos paulistanos – esclarecidos – estão nos mostrando é que esperar pelo poder Público não é uma alternativa inteligente.

"Quem sabe faz a hora não espera acontecer.... ", dizia Geraldo Vandré, compositor brasileiro de escol.

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