sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Breve história da moça que vai de bicicleta para o trabalho

Ontem voltei parte do caminho de metrô. Gosto de viajar no último vagão, com a bicicleta, lendo meu livro tranquilamente. Mas ontem não consegui me entregar ao prazer da leitura. Logo na próxima estação, entrou no vagão uma moça com uma bicicleta dobrável, capacete e mochila à frente do corpo. Aquilo me chamou a atenção porque, essa semana, conversei com várias pessoas sobre as dificuldades em dobro que as mulheres têm para adotarem a bicicleta como meio de transporte casa/trabalho trabalho/casa.


Nessas conversas com colegas, mencionei que além de toda estrutura que faço uso, mulheres que necessitam trabalhar “um pouco mais arrumadas” ainda teriam que incluir uma super nécessaire com todos seus itens de maquiagem, escova, secador de cabelos ou chapinha, teriam o problema da meia calça, e outros problemas do universo feminino que sequer conheço. Também não sei se seria possível dobrar tão bem vestidos e saias como dobro minhas calças e camisas. Enfim, imagino que são muitos problemas a mais.

Mas aquela moça parecia estar voltando do trabalho. Certamente. Não é muito comum ver mulheres de bicicleta no metrô. A curiosidade (tão típica nos jornalistas) não deu trégua, e logo entabulei conversa com a colega.

Bingo. Ela trabalha na área de informática, sem contato com público, sem necessidade de vestimenta mais elaborada. Trabalha normalmente de calça jeans, tênis e camiseta. Mora em Taguatinga, próximo à estão do metrô, e trabalha no centro do cidade – assumo que não consegui entender direito o local – mas se ela embarcou na estação Galeria, deve ser ali pelo Setor Comercial ou Bancário Sul, imagino. Pela manhã pedala poucos quilômetros até a estação do Metrô, desce na Galeria e segue para o trabalho onde, diz ela, tem local para guardar a bicicleta. Não falou se toma banho, e nem eu perguntei. Só falou que troca a blusa quando chega pela manhã ao emprego.

De noite, o caminho inverso.

Na mochila, uma camiseta extra, toalha, batom e outras maquiagens básicas e desodorante. Nada de muito diferente do que toda mulher tem na bolsa. Disse levar frutas e barras de cereais para comer durante o dia. Disse que às vezes  leva almoço de casa, numa tupperware, às vezes almoça nas redondezas do emprego.

Disse que usa a bicicleta desde criança para fazer tudo. Exemplo da mãe, que também usa com frequência esse meio de transporte. Foi o que consegui descobrir. E assumo que fiquei encantado de ver uma colega usando a bike como meio de transporte preferencial.
Vejo muitas mulheres usando bicicleta, ali mesmo no Guará, para ir ao mercado e voltar, para ir a uma loja ou ao banco ou realizar outras atividades nas redondezas. Mas acho que foi a primeira mulher que "conheci" que usa a bicicleta para ir ao trabalho, no centro da cidade, com mochila e tudo.Uma grata surpresa, mesmo.

Perto da minha estação, comentei que pensava em escrever sobre a conversa no blog, e pedi para tirar uma foto dela. Ela, claro, declinou do pedido da imagem, e disse não se importar de eu escrever, desde que não citasse seu nome. Claro que respeitei o que ela disse. Até porque não nos apresentamos formalmente, e eu não sei sequer seu nome.

Mas virei seu fã.

Um comentário:

  1. Mauro, eu também uso a bicicleta como meio de transporte. E pedalo de saia, salto alto ou o que o look do dia exigir.
    Tenho uma Konstanz que é toda acabadinha para não sofrer com sujeira indesejável. Como você tenho um blog e no meu caminho, que é todo no Plano Piloto, já encontrei outras aventureiras de saia como eu, mas são mesmo a minoria entre os ciclistas habituais com que cruzo.
    E muitas vezes abordo as pessoas paro o meu blog e elas também não se deixam fotografar, é um tanto frustrante...
    :)

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